Defini que devia fazer, pelo menos, 45 minutos de exercício
por dia, e não tinha de ser sempre o mesmo desporto. Aliás, quanto maior a diversidade, melhor. Estreei o meu primeiro dia com uma surfada no meu "spot" favorito no Baleal. No total surfei 13 vezes e,
no último dia deste desafio, surfei na mesma praia que no primeiro (e só percebi isso depois).
Nunca surfei tantas vezes num mês. Às vezes não entro no mar porque não está "perfeito" e, durante este mês, fui mais paciente e dei mais
oportunidades ao mar. Além de surfar mais vezes, surfei grandes ondas.
O Surf é o meu desporto de eleição, mas não
se pode surfar todos os dias porque nem sempre está bom (ou razoável sequer).
Então, nos dias em que não surfei, virei-me para a corrida. Corri 9 vezes
durante estes 30 dias, num total de 65 km. No princípio não corria mais que 20
minutos sem ter de parar, e fazia pouco mais de 5 km no total de corrida+caminhada. Para o fim, já
corria 10km sem parar uma única vez e o meu ritmo tinha aumentado bastante
desde o princípio. O truque foi tentar evoluir todos os dias - seja
por correr mais tempo, ou mais rápido, ou uma maior distância. Foi também monitorizar as corridas que fazia com a App RunKeeper, porque assim conseguia
analisar bem a minha evolução e ficava motivado. Além disso, não me posso esquecer
das companhias de corrida que, muitas vezes, me motivaram a correr mais.
Surf e corridas à parte, experimentei uma aula de
yoga (estava todo torto, mas foi uma aula interessante) e fiz dois treinos de musculação (um deles correu bem porque tinha companhia, no outro fiz sozinho e não sei bem o que andei a
fazer).
Meditação
A meditação seria, supostamente, a parte mais fácil deste
desafio. Seria só estar sentado, 10 minutos, sem pensar em nada. Nunca
pensei que isso viesse a ser tão difícil. Já tinha tentado ganhar o hábito da
meditação várias vezes, e até já tinha escrito sobre isso n’O Macaco de Imitação, mas nunca o consegui fazer por muito tempo. Neste
mês estava determinado em ganhar o hábito de uma vez por todas.
Nos primeiros 15 dias experimentei uma série
de meditações que não funcionaram. Experimentei meditar em várias alturas do
dia, sentado, deitado e a ouvir música. Aprendi que meditar à noite não resulta - essa é receita certa para adormecer. Agora sei que a melhor altura para meditar é sempre depois de acordar e fazê-lo sentado no chão, sem distrações. Ao ser a primeira coisa do dia,
estamos mais atentos e a meditação trará mais efeitos positivos. E é isso que
vou fazer daqui em diante.
O mais difícil da meditação é controlar a corrente de pensamentos.
É muito difícil, no início (e ainda agora), não pensar em nada. É preciso
treino para nos sentarmos como deve de ser, de costas direitas, e colocar toda
a concentração na respiração. A mente vagueia para os "problemas" do dia-a-dia,
ou para o passado, ou para o futuro, ou para aquilo que vamos fazer já de
seguida. Nessas alturas - aprendi ao ler uma série de blogs e livros - o
melhor que pudemos fazer é consciencializar que esses pensamentos estão presentes, não "conversar" com eles, e trazer de novo a concentração para a respiração.
A meditação está em todas as listas de coisas que se devem
fazer para ser feliz. Isto porque a meditação ajuda-nos a relaxar e a focar a
atenção naquilo que fazemos no dia-a-dia. Ainda não sou "bom" a fazer isto, e tenho um longo caminho a percorrer. Mas fico mais descansado ao saber
que grandes "mestres" nesta arte demoraram também algum tempo para conseguir
vazar a mente de pensamentos e sentir os efeitos positivos da meditação. Depois de
30 dias já tenho o hábito bem definido e agora só preciso de continuar.
Escrita livre
A primeira vez que ouvi falar em escrita livre foi neste site.
Esta ideia surgiu do livro The Artist's Way, onde o autor sugere a escrita de 3 páginas
diárias pela manhã. Este processo, tal como a meditação, ajuda a vazar a mente
de pensamentos desgastantes, porque acabamos por escrevê-los nestas
páginas. É também importante que a escrita seja feita sem pensar demasiado, sem correções e sem julgamento. Não
há coisas que devem ou não ser escritas. Já tinha experimentado a escrita livre neste
site e decidi inclui-lo neste desafio "corpo e mente". Tal como é feito no
site, decidi escrever 750 palavras diárias e, nestes 30 dias, escrevi um total
de 26840 palavras (+- 40 páginas!).
Gostei muito desta
parte do desafio. Aprendi a gostar mais de escrever e, se no início era difícil
escrever as 750 palavras, houve momentos em que escrevi 1000 palavras antes de parar
para pensar no que estava a ser escrito. Apesar disso, penso que a meditação
tem mais efeitos positivos a médio-longo prazo e por isso não vou continuar a
fazer, todos os dias, a escrita livre. No entanto, vou começar a escrever mais,
disso não hajam dúvidas.
As dificuldades
Mas nem tudo foi fácil. Falhei alguns momentos porque estava
doente ou porque estava em festa ou porque estava a morrer de sono. Como aqui
escrevi, falhei no dia 12 (em todas as frente) porque estava na
festa das latas em Coimbra. No total, falhei 4 dias de exercício físico, e 2 de
meditação e escrita livre. Em 30 dias, foram poucos "maus" momentos.
Noutra altura podia ter desistido porque já não ia fazer um mês "perfeito". Mas
isso seria uma estupidez, isso seria uma derrota e portanto não desisti. Nesses dias
aprendi porque tinha falhado e com isso evitei falhar mais vezes.
Alterei as alturas do dia em que meditava e escrevia para garantir que não as falhava porque estava com sono. Para o final, escrever e meditar eram as primeiras coisas que fazia cada dia.
Houve outros momentos que cumprir o exercício físico foi
muito difícil. Há sempre o dia em que está a chover, ou que estamos doridos, ou
não temos companhia ou, simplesmente, não nos apetece. Esses são os dias
que nos põem à prova. Em qualquer objetivo na vida, em qualquer desafio,
existem esses dias. Nessas alturas temos de arranjar força para cumprir o
prometido, porque de outra forma vamos falhar, mais uma vez, nesse projeto.
Aprendi que se passarmos essa barreira, fica tudo mais fácil daí em diante,
e por isso vale a pena o esforço adicional.
Os livros que
acompanharam o desafio
Nenhum bom desafio estaria completo sem uns bons livros. Comecei então por ler The
Miracle of Mindfulness, de Thích Nhất Hạnh. Nele aprendi a importância de Mindfulness - viver no presente. É sobre estar concentrado
naquilo que estamos a fazer no momento. Como exemplo, o autor escreve que quando estamos a lavar a loiça,
devemos estar só a lavar a loiça, e não a pensar nas coisas que temos para fazer
em seguida. Se temos por hábito estar perdidos em pensamentos sobre o passado
ou o futuro, perdemos a vida verdadeira, que se encontra no presente, naquilo
que estamos a fazer no momento.
De seguida li o livro The Four Hour Body de Tim Ferriss. É
um livro interessante, mas deve ser lido com um objetivo claro em mente, seja
perder peso, ganhar força ou outro. Mas com uma passagem rápido
pelo livro consegui perceber o seu potencial.
Por último, li o Zen and the Art of Happiness, de Chris Prentiss. Este foi um dos melhores livros que li este ano. Chris Prentiss
ensina-nos que não há eventos bons ou maus, mas que eles assim se tornam pela
maneira como nós os interpretamos. Ele diz-nos para pensar que, qualquer coisa
que nos aconteça, é a melhor coisa que nos podia ter acontecido. Este
pensamento, tão simples, tem o poder de tornar a vida muito mais feliz.
Aconselho vivamente a leitura deste livro.
O próximo desafio
Ainda não sei o que vou escrever a seguir para O Macaco de
Imitação. Estou agora a ler um livro sobre o que podemos aprender com os grandes filósofos da antiguidade e quero, num próximo artigo, resumir uns 4 ou 5
livros sobre boas filosofias de vida. Vou também escrever sobre um método que tenho usado para aumentar a minha produtividade nas últimas
semanas. E também quero começar um novo desafio e aprender qualquer coisa nova, seja investir 20 horas em qualquer coisa, ou
uma semana, ou 30 dias.
Estou orgulhoso daquilo que consegui fazer neste
desafio. Dos 90 momentos de exercício, meditação e escrita, apenas falhei 8.
Aprendi a organizar-me melhor, a lutar contra a falta de vontade, e aprendi boas filosofias de vida com os livros que li. Fiquei em melhor forma, tentei relaxar com a meditação e gostei muito de escrever as 44 páginas. Foi um mês saudável, tanto para o
corpo, como para a mente. Sinto que agora estou mais preparado para começar novos desafios.