Eu comecei a surfar porque o surf era cool, ou pelo menos era assim que eu o via. No início, admito, não gostava muito, só queria ser um tipo popular e com sorte com as "babes". Mais tarde viria a descobrir que atrair as miúdas é mais do que escorregar nas ondas.
A minha vontade de ser um tipo fixe contrastava com o meu perfil de puto reservado, mais adepto do livro e do gameboy, que do futebol e das bicicletas. Quase desisti, não fosse ter-me sido emprestada uma prancha. Isso fez deixar-me a escola de surf e começar a (tentar) surfar por mim. Mais ajudou ter conhecido uns tipos que também andavam nestas vidas e que de companhia serviam. Mais tarde, viriam a tornar-se grandes amigos. O surf marcava os seus primeiros pontos - podia não me ter tornado no puto fixe da escola, mas tinha-me dado amigos e uma razão para sair de casa.
Em retrospetiva, nenhuma outra decisão foi melhor que ter a primeira aula de surf. Em poucos anos o meu mundo alterou-se. A nossa amizade cresceu – entre mim, o surf e os meus novos amigos. Comprei a minha primeira prancha e aí ficou decidido - iria ser um surfista até me caírem os cabelos.
O surf não se aprendia num ano, nem em 10 e, por isso, viciou-me. Queria saber fazer mais e melhor. Além disso, dava-me uma desculpa para evitar ir à praia, onde estavam muitas pessoas que faziam muito barulho. Apesar de ir, sempre, surfar com amigos, lá dentro eram só eu e as ondas. Enquanto esperava, refletia sobre tudo o que há para refletir. Era um tempo premium, longe de distracções. O surf permitia-me estar fora de casa, na natureza, sem que alguém me chateasse.
Até aos 18 anos, o surf não era mais que a caminhada até à praia, a 2 minutos a pé, para "ver se está bom". Com a carta de condução, o surf ficou mais complexo. Agora sabia também de marés, de ventos, de linhas de costa. Podia ir surfar para Peniche e aproveitar ondas vindas de todas as direções. A procura começaria. Com o carro apinhado de pranchas, fatos e pessoal, saía à caça das ondas. Entravamos onde estava bom. Surfavamos mais vezes e o nosso nível aumentou.
Porque os estudos se voltaram para Lisboa, o surf limitar-se-ia aos fins-de-semana. Durante a semana estudávamos os ventos e tudo aquilo que fosse preciso para tirar o máximo proveito daqueles dois dias. No verão era a loucura - era a vê-los surfar todo o dia. O surf tornou-se parte da nossa vida. Era algo que estávamos sempre a fazer, quer dentro de água, quer em conversas e previsões. O "bom dia" foi sendo substituído pelo "então, tens surfado?".
Passados 10 anos, continuo viciado no surf. Continuo uma pessoa introvertida, disso o surf não me livrou. Ao surf agradeço porque me deixou ser quem sou. Porque me trouxe amigos e me aproximou da natureza. Porque me deixa refletir durante o tempo entre uma onda e outra. Porque me levou em viagens à procura da onda perfeita. Porque ainda não sei o que está para vir, mas sei, que por "ele", só pode ser coisa boa.
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Foto tirada por mim na Praia da Areia Branca, a minha "terrinha". |
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