Ler é uma seca

Antes deste desabafo, tenho que te confessar uma coisa. Este post não é para ti! Desculpa. Mas se estás aqui, é porque gostas de ler. Mas como leitor, tens amigos que não o fazem - muuuitos amigos. Como é que te dás com esse tipo de gente? Difícil não é? Bom, ajuda-me nesta luta. Lê este post e, se gostares, partilha com os teus amigos não leitores. Se não gostares, não partilhes - não lhes queres dar mais uma desculpa para continuar a não ler.

Ler é uma seca

"Os Maias" e "O Memorial do Convento" são uma seca (peço desculpa aos ofendidos, mas neste blog quem escreve sou eu). O segundo, de Saramago, é muito difícil de ler, especialmente para quem tem 17 anos. Mas são estes os livros que nos apresentam na escola, quando ainda estamos a perceber aquilo que gostamos e não gostamos de fazer. Será por isso que há tantos não-leitores? Talvez...

Saramago não é uma seca. Com o tempo dei outra oportunidade ao prémio nobel português, e agora é o meu autor nacional favorito. Este livro, "As Intermitências da Morte" é super interessante e hilariante. E se a morte deixasse de trabalhar? E se as pessoas não morressem? É um bom começo à obra de Saramago. 
Que obras devíamos estudar na escola? É um assunto delicado. Por um lado é importante estudar a nossa extensa cultura literária. Mas por outro, não seria interessante ensinar os nossos alunos a gostar de ler e a ler muito? Esse é um dos hábitos mais importantes que podemos ter.

Na escola, deviam dar-nos a oportunidade de (também) ler e estudar outros livros, mais "interessantes" para adolescentes nessas idades com interesses variados. Mas não exageremos, claro. Às tantas anda tudo a ler a Playboy ou o KamaSutra ou o "The Game". Nem 8 nem 80.

Há professores que dão essa oportunidade e estimulam o gosto pelos livros. Deixam-nos ler o que queremos para depois apresentar esses livros ao resto da turma. Eu nunca tive essa sorte. Mas por outro lado tive a sorte de ter grandes leitores na família.

Se ainda estás na escola, sugere esta ideia ao teu professor de português. Se ele te disser que tens de ler Saramago, fica feliz na mesma, porque podes sempre ler "As Intermitências da Morte" ou o "Ensaio sobre a Cegueira. E, se ele te deixar, lê qualquer coisa sobre futebol, ou surf, ou psicologia.

E professores, ensinem Eça de Queiroz e Luís de Camões. É importante. Mas não se esqueçam do mais importante, meter esta gente a ler. Pá, nem que seja 2As 50 Sombras de Grey".

Prefiro ver o filme

Adoro bons filmes, sejam eles originais ou adaptações. Toda a experiência do cinema é espetacular - a sala cheia, o som, as boas cadeiras, as pipocas, a cabeça à nossa frente. E quando os filmes são mesmo bons, transportam-te para outra realidade, com efeitos especiais e lugares fantásticos. Não me consigo esquecer da experiência que foi ver o último Star Wars no dia de estreia.

Os livros são outra coisa. Não pretendem competir com os filmes porque a experiência é diferente. E por isso não tens de escolher entre os livros e os filmes. Guarda espaço para os dois. Porque quando lês tens mais tempo para conhecer as personagens, que revelam uma maior profundidade quando comparadas com as mesmas personagens nos filmes. Porque é espetacular estar sentado no sofá, ou na esplanada a ouvir o mar, e a ler um bom livro. Porque há livros sobre tudo que nunca vão ser, nem podem ser, nem devem ser, filmes.

E aqueles filmes adaptados de livros? Vê também, e lê o livro. Porque se o filme é muito bom, então imagina o livro. Não fazem filmes de livros fracos. E mesmo os filmes com 11 Óscares (O Senhor dos Anéis) têm por trás uma trilogia de livros épica. 

Por outro lado, sabes que os filmes não têm o "orçamento" que um livro tem - os efeitos, as personagens, a história sofrem porque não há dinheiro para os melhores atores, realizadores e para os tipos que fazem os planetas explodir. Nos livros o limite é a imaginação do autor e do leitor.

Dizem os leitores das 50 Sombras de Grey que no filme nem uma pilita se vê. Eu não sei, nunca vi, nem li, mas de tanto falar nisso um dia tenho de os ler.

Tirando algumas exceções, as adaptações perdem sempre qualidade e/ou conteúdo. Os livros do Game of Thrones, por exemplo, têm mais personagens e a história é mais profunda. A adaptação é má? Não! É a melhor série de sempre! E quem lê os livros ganha duas vezes.

E há ainda aqui outra coisa que os filmes raramente acertam. Adaptações de livros escritos na primeira pessoa - quando o autor escreve "eu fiz", "eu vi", "eu sinto". Adoro este tipo de livros porque a experiência é muito pessoal. Em vez do autor descrever a história de uma personagem, temos acesso aos pensamentos e sentimentos e há experiência de quem vive a história. E passar esse tipo de experiência para um filme é muito difícil. 

Há bons exemplos? Sim. O "Perdido em Marte" (The Martian) está um livro e um filme incríveis. Há também maus exemplos? Sim. O "Comer Orar e Amar" e o "Livre" são livros muito interessantes, escritos na primeira pessoa, e o filme...beh.


Perdido em Marte. Uma das minhas leituras favoritas do ano passado. O filme também está muito bom. Consome os dois!
Mas esta discussão do "eu vejo o filme" nem faz sentido. Peço desculpa, deixei-me levar. Mas alguma vez vou aprender a fundo alguma coisa vendo um filme? Posso ter um shot de motivação, mas informação concreta sobre como viver bem? Isso não. E quantos livros têm um filme? Pouquíssimos. E há tanta coisa gira para ler, que esperar que se faça um filme disso, e depois o filme sair uma grande merda, é um desperdício. 


"Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam! Não duro nem para metade da livraria! Deve haver certamente outras maneiras de uma pessoa se salvar, senão… estou perdido." - Almada Negreiros

Não tenho tempo para ler

Todos temos tempo para o Facebook, Instagram e Snapchat. Temos tempo para ver várias séries, ver notícias e ver televisão. Também arranjamos temos para pensar em problemas que nunca vão acontecer e ler emails "importantes". Temos tempo para tanto que para nada serve, e não temos tempo para ler?

Por mais ocupada que seja a tua vida (e se estás a ler este blog não tens uma vida dessas) temos sempre tempo para ler. E também tens tempo para desperdiçar com coisas parvas. Eu tenho e faço-o. Mas também tenho tempo para ler.

É ousadia minha dizer o que deves ou não fazer com o teu tempo. Mas ler, dizem os grandes, é um dos hábitos chave. Há que fazê-lo se queremos ser patrões e bosses. E quem não quer ser patrão ou boss? 

Ok, já percebi. Mas porquê ler?

Chegámos ao busílis da questão. Se muito podemos fazer com o nosso tempo (sendo também verdade que desperdiçamos muito dele) porquê ler?

Porque quando lês aprendes. E quando lês não estás à frente da televisão. E quando lês estás relaxado e estás na esplanada a beber um chá ou um café. Porque ao ler acumulas o conhecimento dos grandes desde à antiguidade. Porque ler é cool e quem não lê não é cool.

E porque podes ler sobre tudo o que há no mundo. Sobre surf, meditação, história, ciência e como engatar gajas. Podes também ler bons livros de ficção e ficção científica. E podes ler biografias, que é como uma lição de como ser um gajo que vale a pena ter como amigo.


A biografia de Elon Musk. Um dos melhores livros que li na vida e uma grande fonte de inspiração.
Ler não é uma seca, porque há livros sobre tudo. E a menos que não gostes de fazer nada, vão haver livros para ti e tu vais adorar lê-los.

E imagina o que é conhecer um pouco sobre várias coisas e poder conversar com outras pessoas sobre o que elas gostam de fazer. E imagina conhecer histórias que nem no cinema, com limitações financeiras, podem ser representadas. Imagina aprender novas capacidades e, por isso, viver à boss. Ler é isto tudo.

Estou motivado! Por onde começo?

Começa por um livro pequeno. Escolhe um livro de ficção, uma história engraçada, ou um livro de não ficção, sobre alguém ou alguma coisa, que aches interessante. E lê o primeiro capítulo. Se não gostares, escolhe outro.

Agora dedica 20 ou 30 minutos do teu dia à leitura. Numa esplanada, na cama antes de dormir ou de manhã depois do pequeno-almoço. Até na casa de banho! Não interessa, escolhe um local confortável e começa a ler que nem um campeão.

Se não sabes o que ler, pede sugestões aos teus amigos leitores. Revela-te como um tipo, ou tipa, que agora lê e merece respeito. Ou faz uma pesquisa e encomenda uns livros. Explora o goodreads.com (o Facebook do livros). E se lês em inglês, visita o bookdepository.uk porque tem os melhores preços.

Mas isto para ti já é passado? Já lês há muito tempo? Então compra um Kobo e leva os teus livros digitais para qualquer lado. Ler nestes dispositivos é espetacular - podes ter livros muito baratos (ou de borla), são muito leves e práticos e, ao contrário dos tablets ou PCs, não fazem mal aos olhos (a tecnologia do ecrã é diferente do habitual e o ecrã parece uma folha de papel, nem faz reflexo!). 

E se estás assim tão à frente, e gostas de fazer anotações no teu Kobo, utiliza a minha aplicação, o KoboNotes.

Quero também indicar-te também as minhas sugestões, que fui fazendo ao longo de vários posts:

Não te limites e lê sobre o que tu quiseres. Já não estás na escola. Mas, se tiveres, lê também o que tu quiseres e diz à tua professora para colocar o memorial do convento no **. (Agora a sério, não tenho nada contra o "Memorial do Convento". Eu adoro Saramago só que ainda não consegui ler esse livro. Um dia dou-lhe outra oportunidade).



Por último, comenta este post! Quero saber o que achaste das minhas sugestões e quais os teus livros favoritos. E lembra-te - como diziam os Gato Fedorento, quem lê é cool e quem não lê, não é cool - ou qualquer coisa do género.

Conhece a página do Facebook d'O Macaco de Imitação.

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