Voluntariado em São Tomé e Príncipe - artigo de João Gouveia

Em Agosto, parti com uma equipa, composta por mim e 4 raparigas (Mariana, Inês, Joana e Kátia) para São Tomé e Príncipe. Um autêntico puzzle - cada peça com a sua maneira e jeito de ser, mas que no fim ficou todo unido! Foram como irmãs para mim! Jamais as irei esquecer! Só lhes posso agradecer por terem partilhado este mês comigo.

Conforme prometido ao O Macaco de Imitação, partilho agora a minha experiência e momentos que foram vividos ao longo do melhor mês da minha vida, mês esse em que realizei voluntariado internacional em São Tomé e Príncipe.

As minhas expectativas

Antes da viagem não pesquisei muito sobre S. Tomé. Decidi não criar muitas expectativas e ir na descoberta de um novo país. Penso ter sido a melhor opção.

O meu dia-a-dia

Já no terreno, de manhã colaborávamos no Curso de Férias da Paróquia de Nossa Sra. da Conceição, onde haviam crianças e jovens desde a pré até a 9ª classe. Realizámos visitas de estudo, atividades/jogos com as crianças e aulas de substituição quando necessário ou na ausência de algum facilitador (voluntário do curso de férias).

Durante a tarde, a equipa dividia-se. Dois membros ficavam na Conceição dando formações planeadas pela equipa no Centro Paroquial. Qualquer pessoa poderia comparecer, desde crianças, a jovens e adultos. Foram várias as disciplinas disponíveis para a comunidade (Português, Inglês, Gestão, Geografia, Saúde e Cidadania, Informática, entre outras). Os restantes membros iam para uma pequena localidade perto da Conceição (cidade), que tinha o nome de Água Porca. É uma localidade mais carenciada, em que na maioria os alunos eram crianças. Tinha uma pequena capela, onde as aulas eram dadas ao ar livre debaixo de um telheiro. Foram dadas formações de Português, Inglês e atividades/dinâmicas com as crianças locais.

Muito resumidamente, era este o nosso plano de segunda a sexta. Aos sábados, realizávamos passeios com os jovens da Paróquia de Conceição, e aos domingo recarregávamos as energia.

Formação de Português em Água Porca.
Aulas durante a manhã do curso de férias para a 1ª e 2ª classe, no Centro Paroquial da Conceição.

A melhor qualidade daquelas pessoas

A felicidade! Aquelas pessoas, com tão pouco em comparação ao nosso país, são felizes. As crianças, por exemplo, brincavam com um simples pneu. Qualquer coisa para eles servia. Hoje em dia, no nosso país, a maioria das crianças não sabem o que é isso, e estão dependentes das novas tecnologias. E a bondade daquela gente também foi bastante notória. Queriam sempre oferecer alguma coisa - faziam mesmo questão de oferecer. Foram essas as duas qualidades mais sentidas.


O momento mais feliz desta experiência

Ao longo desse mês foram muitos os momentos felizes. Recordando agora com saudade, os momentos que me deixavam verdadeiramente feliz eram as formações de informática. Ver a alegria daqueles alunos só por terem visto um portátil, que até então era desconhecido para muitos. Todos eles mostraram muito interesse e dedicação em aprender as noções básicas de utilizador. Terminava as formações com uma satisfação imensa, e no caminho para casa só me apetecia partilhar com as minhas “manas” como tinham corrido.


Formação de informática no Centro Paroquial Conceição.

E a situação mais complicada

Foram os 3 dias em que eu e a Mariana passámos mal. Isto porque no primeiro sábado realizámos uma caminhada com os jovens da comunidade. Andámos durante 4 horas e meia, e apenas descansámos 10 minutos para visitar a cascata de S. Nicolau. Quando aí chegámos, e já sem água no cantil, pensámos que a dita água vinha de uma nascente, e então decidimos encher o meu cantil e beber. Resultado - 3 dias de cama com febre, vómitos e diarreia. No último dia fomos ao hospital (outra aventura), e lá conseguimos ser atendidos no bloco operatório por uma anestesista que nos receitou uns medicamentos, e a verdade é que nos curou. Serviu de lição.

Cascata de S. Nicolau

O maior desafio

Como rapaz tímido que sou, não sentia grande a vontade para dar formações. Esse, para mim, foi o grande desafio. Ao longo do tempo fui dando formações de Geografia e Informática. Perceber, no final desse mês, que os alunos tinham gostado imenso das minhas aulas, foi algo gratificante. Fico orgulhoso do trabalho realizado, não só por mim, mas pela minha equipa. Desafio superado!

Mercado da Conceição
Lagoa Azul
Praia Morro Peixe
Casa da equipa
Quarto do Tarzan

Em que aspecto esta experiência me mudou

Mudei, em primeiro lugar, no meu peso - perdi 5 quilos. Mas fora de brincadeiras, quem realiza este tipo de ações acaba sempre por mudar, por mais pequena que seja essa mudança. Pessoalmente, mudei a minha maneira de ser e de estar - parece que vejo a vida com outros olhos. Não sei bem como explicar isto!

Aprendi a dar valor a certas coisas que em Portugal me passavam despercebidas. Quando dou por mim a pensar sobre este mês (único!), sinto um desejo enorme de voltar para S. Tomé, com a minha equipa. Fomos os 5 muito unidos do início ao fim, e esse foi outro fator importante para que esta missão fosse perfeita. Pensei que fosse difícil aturar 4 raparigas durante 1 mês, e a verdade é que estava completamente enganado. Voltava a repetir tudo por igual. Tudo isso fez-me crescer como pessoa! 

A equipa

Quem deve fazer voluntariado

Todos! Aconselho qualquer pessoa a fazê-lo. A palavra voluntariado significa fazermos bem (e de borla) a alguma coisa - numa instituição, a uma criança, a um grupo sénior, entre outros. Portanto, ao fazermos voluntariado, sentimo-nos realizados, e somos úteis perante a sociedade. Não custa nada ajudar o próximo. Um dia posso ser eu a necessitar dessa ajuda, desse carinho, dessa companhia. Nunca sabemos o dia de amanhã!

Em Portugal existem várias instituições a solicitar voluntários. É só fazer uma pesquisa, e depois, dependendo do tipo de voluntariado que se pretende, escolher a melhor opção. E para uma pessoa que seja aventureira, que queira ir à descoberta de um novo mundo, temos hoje em dia diversas ONG (Organização Não Governamental) que nos levam a realizar estas Missões Internacionais. Não se perde nada ao ter estas experiências. E, como já disse, este foi o melhor mês da minha vida!




Por fim, não sei se mudei o mundo. Sei sim que mudei a vida das pessoas que se cruzaram comigo ao longo desta missão, e elas a minha!

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